A crença de que aquilo que podemos captar com nossos sentidos seja verdadeiro, é uma crença não questionável em nossa cultura. As visões possíveis e imagináveis acerca do que existe, do que pode ser conhecido e de como se conhece são, em geral, crenças que partem de pressupostos filosóficos diferentes.
Nossa realidade é moldada pela forma de perceber o mundo, através dos cinco sentidos “tradicionais”, são específicos para observar o que vem de fora em direção ao corpo. Além deles, existem, a “propriocepção” e outros internos e externos.
Este jeito de olhar, sentir e compreender não nascem com as pessoas, eles são o resultado de todo um processo de aprendizagem, desenvolvido dia após dia, desde o nascimento. E todo esse aprender é mais complexo do que parece. A própria realidade visível, que parece tão sólida e concreta é aprendida.
O ar que, “circunda” o individuo, está carregado de várias formas de energia, como: espectro de luz, ondas sonoras e de rádio, e não “entram” no nosso sistema perceptivo. Está fora da zona proximal, ou não somos capazes de assimilar.
Aceitar, o fato de que só existe para a pessoa aquilo que ela percebe, é postular qualidades internas especiais, que são, não apenas privadas e intrinsecamente valiosas. Que as mesmas não podem ser confirmadas, e nem investigadas, é apenas obscurantismo.
Acredita-se que só existe para a pessoa aquilo que ela percebe (e talvez seja isto que impossibilita o desenvolvimento da consciência), mas daí a dizer que se algo não existe para determinada pessoa, não existe de fato, é uma atitude que os psicólogos chamariam de egocentrismo. Cai-se no erro, de acreditar que a consciência não existe porque não pode ser confirmada nem investigada.
Dentro destes aspectos, cabe lembrar o famoso Diagrama da Linha de Platão (2004), onde o conhecimento é dividido em doxa (Doxa – inclui os eikones (imagens), que seriam conhecidas através da eikasia (imaginação), e as coisas (mundo visível), que seriam conhecidas através da pistis (crença), e episteme), sendo a primeira considerada opinião e o segundo conhecimento verdadeiro. Assim, Platão acredita na existência do que ele chama de mundo das idéias, que conteria a verdade, sendo esta captada pela intuição. Esta intuição viria, então do mundo da essência e não da aparência, como acontece com a percepção sensorial. Esta visão de Platão implica para muitos, porém, em dualismo entre o mundo das idéias e o mundo das aparências.
É significativo o fato de que toda percepção – “toda percepção consciente” – têm, imagens características. Bateson (1990), ilustra que uma dor localiza-se e se sobressai em um ambiente. Estes são os componentes elementares de uma imagem. Quando alguém pisa no meu pé, o que sinto não é apenas pisando no meu pé, mas a imagem que possuo da pessoa pisando no meu pé, reconstruído partindo de relatórios neurais e atingindo meu cérebro um pouco depois que seu pé aterrissou no meu. A experiência do exterior sofre sempre a intervenção do órgão sensorial específico e de caminhos neurais. Os objetos são assim minha criação, e minha experiência com ele é subjetiva e não objetiva.
Não existe esta separação entre externo e interno, já que o que separa o homem do mundo é a própria limitação perceptiva que o impede de perceber a Unidade. Assim, a fim de preencher o vazio gerado pela perda da percepção da Unidade, o homem, ao buscar a sua razão de ser, interpreta a sua busca a partir dos valores da cultura, acreditando que lhe faltam amigos, sexo, dinheiro, sucesso, carro, (...).
Deste modo, o ser humano vai se constituindo (ou se mecanizando) a partir da falta, procurando suprimí-la através de objetos percebidos como externos a ele.
Estas considerações colocam em risco a tão falada objetividade científica. Entretanto pode-se ir além e demonstrar que a própria limitação da percepção sensorial opera apenas a partir da diferença, sendo que: “todo recebimento de informação é necessariamente o recebimento de informações de diferenças, e toda percepção está limitada pela entrada. Diferenças muito leves ou muito vagarosamente apresentadas não são perceptíveis. Estas não são alimento para a percepção.
A proposta, aqui é a de que existem realidades que vão além do conhecido e que estão além dos sentidos e da razão. A prova de que esta realidade existe não vem de um saber sobre um objeto (adquirido pelos sentidos e pelo intelecto ordinário), mas sim de uma experiência direta com seu grau de percepção e de consciência.
O cérebro registra cem milhões de sensações por segundo, e aproximadamente vinte mil momentos diferentes por dia. Cada um desses momentos dura apenas alguns segundos. Ao pensar em qualquer lembrança intensa e memorável, positiva ou negativa, percebe-se que a imagem na memória, registra um ponto preciso no tempo, e que não existe um ponto neutro na lembrança destes fatos.
A vida emocional tem sido sistematicamente negligenciada pela cultura. A educação, baseada em princípios cartesianos, dá ênfase aos processos intelectuais e cognitivos. No entanto, a felicidade e o bem-estar, tão almejados por todos, depende muito mais dos processos emocionais que dos intelectuais.
Quase todas as pessoas sentem que a vida poderia ser muito mais intensa; anseiam por melhores relacionamentos, pela conexão com o outro, pelo entendimento mútuo. Estão sempre buscando maneiras indiretas, artificiais ou dissimuladas de experimentar e expressar as emoções. Apaixona-se por pessoas intangíveis, usam drogas, vêem filmes românticos, (...). Essas, entre outras atividades, proporcionam uma satisfação daquilo que se deseja, sem risco da participação real.
A todos os instantes, a desenvoltura de expressar as emoções estão sendo colocadas a prova, pela própria pessoa que expressa e pela outra do convívio social. Encontram-se pessoas que passam suas vidas sufocando e reprimindo as emoções, acarretando com isto, ansiedade patológica, depressão, enfermidade física e outras patologias relacionadas. Algumas pessoas envolvem-se de modo avassalador em suas relações e emoções, agem contra a razão, com isto sentem-se incapazes de resolver e enfrentar os problemas do mundo adjacente; e mesmo com este envolvimento não ficam plenamente satisfeitos.
Se tudo o que fosse sofrimento na vida representasse progresso, as pessoas estariam buscando-o, ao em vez de evitá-lo.
Esta dificuldade de batalhar, vivenciar e expressar as emoções pode transformar a vida em uma luta Constante. Algumas preferem isolar-se do mundo e “privar-se” das suas emoções; tornando-se indiferentes à percepção e, assim deixando em último plano a forma saudável e natural de viver as inter-relações. Estas quando vivenciadas pelo ser humano, de um modo não abstrato, e sim existencial, pode ser considerada algo real, que possibilite a pessoa identificar e valorizar seu mundo emocional, para que este atue como determinante na qualidade dos relacionamentos humanos, e não afete ou prejudique a sua vida.
O “SENTIMENTO” é um “acondicionamento complexo da pessoa, predominantemente conatural e afetivo, com referência a um objeto ou pessoa.” (CABRAL; NICK, 1997, p. 293).
O sentimento simultaneamente é identificado pelo objeto e por certas relações entre a pessoa e esse objeto. Tais relações implicam, além do afeto central, a influência de Elementos mentais consentâneos com as emoções englobadas nesse afeto. Quando não falamos sobre nossos sentimentos as expressões falam mais do que as palavras podem descrever.
Em Física diz-se que um elétron fica excitado quando se move para uma órbita mais exterior. Encontra-se num estado “mais excitado”. O elétron muda sua posição ao capturar um fóton, uma partícula de energia de luz. Quando o elétron libera essa energia, novamente em forma de luz, retorna à sua órbita anterior, num estado menos excitado. A importância desse campo para a nossa discussão reside no fato de ele revelar o nível de excitação do corpo. A criação da excitação em si mesma é uma sensação de prazer quando associada com a perspectiva e liberação. A pessoa sente-se bem ou mal, de acordo com o estado do funcionamento de sua percepção fisiológica e emocional.
A “EMOÇÃO” é um estado interno “Caracterizado por cognições, sensações, reações fisiológicas e comportamentos expressivos; tende aparecer subitamente e ser difícil de controlar.” (DAVIDOFF, 2001, p. 760).
As emoções são excelentes exemplos das causas fictícias, às quais comumente atribuímos o comportamento. Corremos por causa do Medo e brigamos por causa da Raiva; ficamos paralisados pela Ira ou irrequietos pela euforia.
O comportamento das pessoas, gerado pelas emoções, é uma matéria complexa, não por ser inacessível, mas porque é uma malha com propriedades distintamente trançadas.
Desde que é um processo, e não uma coisa corporificada, não pode ser facilmente imobilizada para observação, por que é mutável, fluido e intangível. É mais que uma mera descrição dos acontecimentos à medida que ocorrem, é uma tentativa de descobrir, classificar, descrever e mostrar que certos acontecimentos estão ordenadamente relacionados com outros. E por esta razão, fazem grandes exigências técnicas da engenhosidade e energia da pesquisadora, a qual também fica emocionalmente envolvida, por ser e elemento deste “Todo”.
Avaliar e medir a emotividade é considerar a facilidade com a qual uma pessoa fica emocionada, sua excitabilidade, sensibilidade, sua reatividade nervosa aos estímulos e mais especialmente os de natureza afetiva.
É emotiva uma pessoa cuja comoção interna é superior à excitação. Chama-se de “emotivo” aquele que fica “perturbado por muito pouco”, enquanto a maioria dos seres não fica, ou que nas mesmas circunstâncias, ficam mais violentamente emocionado que a média, e perturba-se por motivos que ele é o primeiro a reconhecer que não valem a pena. Ao contrário, uma pessoa não emotiva, ou muito pouco emotiva, que “não se deixa alterar” ou não demonstra, exceto em raras circunstâncias, ele não se sobressalta é de humor sempre igual, constante e indiferente ao fator excitativo.
É fácil de perceber, na solução de qualquer problema, que o pior problema é a carga de aflição que o Ser Humano cria, desenvolve e sustenta contra si mesmo.
Um homem sábio, certa vez descreveu em sobre seus conflitos internos:
Dentro de mim existem três cachorros,
um deles é cruel e mau e o outro é pacífico, medroso.
Os dois estão sempre brigando...
Quando então lhe perguntaram:
Qual dos dois cachorros ganharia a briga?
O sábio homem parou, refletiu e respondeu:
O que eu alimentar.
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